8.6.08

De volta para o jornal... será?

Foi a temática de hoje do caderno Mais! da Folha de S. Paulo. Talvez inspirado por dados de pesquisa divulgada essa semana na WAN, apontando para o forte crescimento do meio jornal no Brasil e China. Segundo os dados, no Brasil, a taxa de crescimento foi de 11% no ano passado. O fato é que o caderno traz uma ampla discussão sobre o tema, citando a importância do meio jornal e mostrando como o jornalismo online deixa muito a desejar seja pela falta de consistência, seja por não conseguir ocupar como negócio o lugar do bom e velho invento de Gutemberg.

Algumas provocações de minha parte:


- O jornal não vai acabar nunca, mas sua relevância estará cada vez mais diretamente ligada à sua importância na vida do leitor, cada vez com menos tempo para se deicar à leitura desse meio


- Será que a internet tem mesmo que substituir em volume o modelo de negócio da imprensa escrita? Ou será que a tese da long tail tb servirá para esse novo mundo digital, onde a métrica é perversa e detalha exatamente o que se está entregando ao leitor??


Ah, a imagem tb é uma provocação, mas só para quem viu a capa do caderno...

Tortura de jornalistas

Seis anos depois da traumática morte do colega Tim Lopes, nova tragédia atingiu a categoria carioca. Não vou entrar na discussão se a reportagem deveria ser feita, se os colegas estavam ali em busca de uma premiação, se a direção do periódico foi irresponsável. Muito já se falou e se discutiu sobre isso.
A questão que me assusta é como cada vez mais estamos mais reféns e reféns.
E por tudo isso não podemos nos calar, nem nos assustar.

Integração de redações, the last one

No último dia do tour, já em Londres, visitamos a gigantesca e famosa redação de seis mil metros quadrados do Daily Telegraph, onde a integração chegou em janeiro de 2007 com a transferência dos 500 jornalistas do The Daily Telegraph, do The Sunday Telegraph, do The Weekly Telegraph e suas respectivas e mínimas operações on-line para o novo prédio da empresa
.

Além da grandiosidade da operação, o processo de integração do Daily surpreende pela visão estratégica, organização e treinamento realizado. Desenhada como uma flor, a nova redação é responsável pela publicação dos títulos impressos e pelo portal de notícias. A produção multimídia conta com uma equipe de 12 profissionais, assim como os projetos on-line têm uma equipe dedicada de 25 jornalistas. Profissionais das áreas de marketing, circulação e métricas também têm postos de trabalho ao lado dos jornalistas. Outro destaque é a forte remissão entre as edições: cada página do jornal tem pelo menos uma chamada (o nosso dedo-duro) para conteúdo complementar na web. A unificação das operações resultou em crescimento de 7,35 na circulação diária e também de aumento na participação de mercado do grupo, segundo os editores-executivos que nos receberam na visita.

Por fim, estivemos no Financial Times, onde os ventos da integração chegaram há dez anos, com a mudança de contrato de trabalho que fez com que os funcionários do impresso passassem a responder também pela produção do on-line. Ainda que a produção seja unificada a redação do FT tem uma equipe de edição para o site que, assim como o impresso, tem quatro edições regionais (Inglaterra, Europa, EUA e Ásia).

Para ter uma maior agilidade na edição, foi implementada uma mesma plataforma de publicação para todos os produtos. Outra decisão que chegou com a integração é a de dar os “furos” primeiro no site de notícias e assim já garantir uma repercussão nas edições impressas. Apesar de ter uma equipe de 20 profissionais apenas para a produção da web TV, a produção multimídia do FT é pequena e a liderança da redação reconhece a necessidade de pensar e fazer mais multimídia.

Integração de redações II

A terceira visita do tour foi à redação do Nordjske, grupo que publica jornais regionais no norte da Dinamarca, com circulação média de 70 mil exemplares e um portal de notícias locais com 130 mil visitantes únicos por mês
. Além disso, tem uma TV a cabo e uma rádio, também focadas no conteúdo hiper super local: no dia do nosso tour por lá a grande notícia da região era um choque de trens sem nenhuma gravidade.

A grande inovação da integração no Nordjske foi a criação da Super Desk em 2006, com o rodízio diário do comando das redações das quatro mídias do grupo. Sim, o editor-executivo do jornal, da TV, da rádio e da internet não é o mesmo todo o dia. Eles se revezam nesse comando, dividem e assumem a responsabilidade pelas pautas de todas as mídias. As reportagens são feitas pelas equipes de cada mídia, que abastecem as demais com as mesmas informações. E todas as notícias vão obrigatoriamente para a internet. Vale lembrar aqui que não há concorrência local, o que possibilita essa questionável padronização do conteúdo.

Já na Alemanha nossa visita foi ao quartel-general do Axel Springer, que unificou numa só redação os 70 editores e editores-executivos de quatro jornais: Die Welt, Welt am Sonntag, Welt Kompakt e Berliner Morgen Post. Com os comandos lado a lado, são tomadas diariamente as decisões de edição, assim como são feitas as avaliações em relação às páginas fechadas. Neste mesmo grupo também estão os editores responsáveis pela edição do portal de notícias Welt Online. As equipes de reportagem, divididas por assunto e não por jornal, ficam em outros andares da empresa e se relacionam com os editores por intermédio de coordenadores e chefes de reportagem. Não conseguimos conversar com os repórteres para saber se isso funciona, mas nos pareceu impessoal e “alemã” demais essa organização.

A navegação dos leitores no portal tem contribuído para algumas mudanças no impresso. Assuntos mais leves ganharam outra ênfase, as fotos passaram a ter mais destaque nas edições diárias e algumas colunas antes escondidas, como as de TV e cultura, foram redesenhadas com mais espaço.
Também contribuiu para essa reestruturação os resultados de pesquisa de consumo de notícias com um grupo de 200 leitores que usam diariamente um readerscan, espécie de e-paper, que mostra o que de fato eles têm lido na edição impressa.

Tour integração de redações I

Como integrar redações off e on-line? Qual é a melhor arquitetura para acomodar essas equipes? Como treinar esses profissionais? Como organizar a produção? Perguntas como essas povoam o dia-a-dia das lideranças nas maiores redações de jornais do mundo. Para ajudar na busca de soluções e aprofundar essa discussão, a Ifra, associação de jornais que estuda novas tecnologias e processos de produção, reuniu um grupo de 13 editores de várias regiões do mundo para uma visita guiada ( e no formato fast-food ) a redações européias que já testam formatos de integração entre suas equipes.

Em uma semana visitamos cinco redações integradas e o grande aprendizado foi ver que não há resposta nem modelo pronto a ser importado. Quem está praticando a integração sabe que há muito ainda o que fazer. E todos concordam que vivemos hoje uma fase de transição do modelo de negócio que ainda pode significar outras mudanças na forma de produção já já.

Desembarcamos na primeira redação em Copenhagen, Dinamarca, no dia 14 de janeiro para visitar os dois jornais do grupo JP/ Politiken Hus. O Ekstra Bladet é o jornal popular da organização e a integração acaba de chegar com a transferência dos editores do online para a redação do impresso. Sentados lado a lado, os responsáveis pelos dois produtos negociam que matérias irão para o online e quais ficarão só no papel, além de coordenarem conjuntamente a produção multimídia.

O tablóide tem uma circulação de 170 mil exemplares e o site é o mais lido do país com uma audiência de 1,3 milhão de visitantes únicos. Só como referência: o Globo Online teve 3,8 milhões de visitantes únicos em março. A produção do site, no entanto, continua independente. A grande aposta do jornal é o Nationen! sua rede social com jornalismo participativo, lançada em junho de 2007 e que já conta com 40 mil usuários cadastrados. Parte do conteúdo enviado pelos usuários é selecionado e publicado em duas páginas diárias do impresso.

Na redação do Politiken, a integração chegou em 2007 com novo projeto gráfico e reestruturação na produção para fazer frente ao avanço dos gratuitos, já que a circulação do quality paper do grupo havia caído de 150 mil para 130 mil no período de 1995 a 2006 (a população na Dinamarca é de 5,4 milhões).

A equipe de 80 jornalistas foi dividida em duas. Uma delas passou a ser chamada de Overview News e trabalha com 40 profissionais produzindo notícias factuais para o tempo real do site e para o jornal impresso. Os outros 40 jornalistas são responsáveis pelas reportagens especiais e investigativas (Insight News), que também vão antes para a internet como forma de promover a edição impressa. Segundo o editor-chefe Jesper Friis
, com a mudança, a equipe passou a planejar mais a produção e deixou de ser refém do fluxo de notícias, conseguindo mais furos de reportagem e impulsionando a venda diária de jornais.

De quem é o furo??

Tive essa discussão outro dia desses com um amigo, big boss de um jornal.
Ele argumentava que a grande perda nos processos de integração de redações é a questão do furo.
- Como um repórter vai brigar pela grande notícia, se ele trabalha para uma plataforma integrada de veículos que distribuiu o furo produzido por ele indiscriminadamente? O jornalista gosta de brigar pela camisa da empresa onde ele trabalha!!
Discordei do amigo.
Faz tempo que não estou na linha de frente da apuração jornalística, mas, do que ainda me lembro, o repórter gosta e quer ver mesmo é seu nome relacionado àquele conteúdo que vai repercutir no dia seguinte. A grande questão é a autoria. Melhor, claro, se ela estiver aliada a uma marca de qualidade...

Marcadores:

Eu voltei...

Fiquei um bocado de tempo longe do blog, tentei andar por outras praias, mas acho que é aqui que devo continuar escrevendo... Então, lá vamos nós, de novo!!!

13.11.06

A redação do futuro, pelo grupo Gannett

O grupo Gannett, um dos maiores do setor de comunicações dos EUA com dezenas de jornais e revistas, anunciou há pouco mais de uma semana que vai promover uma ampla reformulação de suas 89 redações para que haja uma distribuição 24/7 de seu conteúdo em diversos formatos emaior proximidade com o conteúdo local.

O nome do projeto é Centro de Informação e passa por uma integração maior entre papel e online e uma atenção redobrada em relação aos desejos de notícias dos leitores. Num memorando para todos os funcionários do grupo (veja aqui), o CEO Craig Dubow, ressaltou a importância desse projeto para fazer jornais "mais fortes" e atender às demandas dos anunciantes. "Vamos entregar conteúdo para celular, vídeo e onde mais seja possível no futuro, precisamos nos preparar já para isso", reiterou. O documento no entanto não explica como seria esse projeto nem como funcionaria na prática esse Centro de Informação. Os editores da empresa foram comunicados da mudança num seminário em outubro. Já foram feitos teste em três redações, segundo ele, com suceso.

O discurso é mais do mesmo de sempre. A circulação cai, a receita também e é preciso entregar mais valor no mundo online para envolver agências de publicidade e anunciantes nesse negócio.

O que eu gostaria de saber é como fazer para atingir esse ousado objetivo. É essa a pergunta que ninguém conseguiu responder até agora.

6.11.06

E por falar em integração de redações

A palestra da ONA sobre o tema foi uma das mais concorridas. Eu, mal acostumada com farta quantidade de lugares para escolher, bobei e deixei para chegar exatamente na hora da palestra. Resultado: fiquei sentada no chão!!! Não fosse o simpático e hospitaleiro Neil Chase, editor do Continuous News Desk do NYT, eu teria passado aqueles 70 minutos ali, imprensada entre a porta e um editor da BBC. Resgatada pelo amigo, pude assistir as discussões mais de perto e verificar que nossos dramas e dúvidas sobre como aumentar a sinergia entre as redações off e online são vivenciados pelos quatro cantos do mundo.

Alguns apostam em juntar todo mundo, ombro a ombro, deixar o pau comer entre eles e que vençam os mais espertos. É caso do The Journal, um jornal pequeno de Delaware. Tem uma equipe de 120 pessoas e diz que 60% fazem de tudo: jornal, mobile e web. Mas quando eu pergunto como é a rotina do repórter no dia-a-dia ele deixa escapar que nem todo mundo faz tudo. Lógico! Ninguém é bom em tudo!

No USA Today, juntaram os suplementos na primeira fase. Mesmo sem hard news, a carga horária da turma cresceu e já há reclamações e desânimos em relação a isso.

No portal ESPN, é tudo separado e, segundo o editor-executivo, o sucesso é justamente esse.

No Washington Post, também: vidas separadas, um mesão na redação num tentaiva de melhorar a sinergia. Mas as condições de trabalho e de clima muito diferentes não contribuem para tal.

No NYT, a integração serviu para colocar um balde de água fria na galera do online, que passou a ser um satélite do impresso, o astro mestre. O clima é tão esquisito que a gente nem agüentou ficar muito tempo lá na redação do Digital.

BBC, CNN, MSNBC... poderia enumerar vários exemplos, nenhum que eu tenha achado bom suficiente para copiar ou importar.

Enfim, minha opinião não mudou.

Acho que o melhor caminho ainda é conseguir diagnosticar a cultura que impera nas redações, enxergar deficiências e qualidades e junto com as equipes construir esse caminho, cujo objetivo final deve ser produzir produtos melhores, com mais qualidade e inteligência na produção. Com os melhores, mais preparados e comprometidos profissionais que pudermos ter.

Para o papel, o online, o celular, o ipod, o chip que estará instalado na cabeça de nossa audiência num futuro não mais tão longe...

2.11.06

Playground do Washington Post

Aproveitamos a conferência da ONA em Washington para conhecer as redações do Post off e online. Ver como eles trabalham e como lidam com o fato de não terem operações integradas. Uma das melhores coisas foi descobrir que lá eles têm um PLAYGROUND!!! Velha reivindicação de boa parte da redação onde trabalho...




MoJos e Kikas no jornalismo online

Uma das palestras da conferência da ONA era sobre essa mais nova categoria de jornalistas: MoJo ou Mobile Journalist. Uma galera que não tem a obrigação de dar as caras na redação do impresso. Aliás, nem tem mesa e cadeira para eles lá. Mas que ficam conectados 24h, com laptop e câmera de vídeo, mandando notícias em tempo real e funcionando como um elo de ligação entre o jornal e comunidade local.

Alguns ficam livres para fazer as matérias que quiserem. Outros recebem pautas específicas a apurar.

Diferentemente do que já temos aqui no Brasil - repórteres de produtos impressos que passam notícias que estão em apuração por meio de seus celulares - lá nos EUA e na Europa a briga hoje é para conseguir montar um plantão com notícias que não tenham como fonte apenas os serviços das agências de notícias. Ninguém lá passa flash como a gente faz aqui.

Por isso, criaram os tais MoJos.

Mas será que isso funciona?
A mídia tradicional de lá encara como um experimento. Redações menores e com menos recursos humanos vendem como uma grande e eficiente inovação.

Eu não acredito que seja a melhor forma ou rotina para fazer jornalismo em tempo real, mas concordo que para a cobertura de cidade, bem local, poderia ser uma boa alternativa sim. O problema é que para essa função só se pensa em recém-formados. Nada contra os jovens. Mas pq não colocar um experiente jornalista, cheio de fontes, também para trabalhar remotamente?

Pq ter uma mesa e uma cadeira numa redação ainda é diretamente proporcional ao prestígio que o coleguinha tem no mercado. Ainda é assim. Em pouco tempo, pode não ser mais.

Mas também não acredito na possibilidade de todos sermos abduzidos e transformados em Kikas, a célebre personagem do filme homônimo de Pedro Almodóvar. Para fazer multimídia, tempo real, há que se pensar, saber o que está fazendo. Dá para fazer um vídeo e um texto numa única saída? Até dá. Mas há que se ter prioridade. E cérebro para tomar as decisões acertadas.

18.10.06

Vídeos no Washington Post


No Washingnton Post, onde não há integração de redações, a produção de vídeos fica por conta do online. Cerca de 40 pessoas do impresso já foram treinadas - aprenderam na prática como ligar a máquina, enquadrar e desligar. Ganharam umas maquininhas fajutas (que custam US$ 300) e que produzem um áudio tétrico. Mandam em torno de dois vídeos por semana para publicação, com resultado bem questionável. Contam com um pequeno estúdio na redação do impresso, mas este é pouquíssimo usado.

É um grupo de 10 outras pessoas do online que cuidam da produção especial do site (seja nas coberturas mais amplas como Katrina, sejam nos vídeos integrados em produtos multimídia). Foram batizados de videografistas e produzem cerca de cinco vídeos/documentários especiais por mês. Ainda não conseguiram montar uma grade de produção semanal, mas estão tentando.

Vídeos, vídeos e mais vídeos

A segunda grande estrela da conferência - a primeira foi a integração de redações - foi a produção de vídeos para web. Todo mundo quer produzir vídeos, todo mundo sabe que não pode ser imitando a TV, que há que se descobrir uma outra linguagem e todo mundo está experimentando tudo. Mas ninguém descobriu o melhor caminho.

E por que vídeo?

1. Primeiro pq a banda larga já está disseminada suficientemente para estimular demanda por esse produto

2. Segundo pq as agencias de publicidade podem ganhar mais dinheiro nesse tipo de produção do que com qualquer outro tipo de formato online

3. Terceiro pq a TV digital vem aí e é um tipo de produto que permite ainda entrega em outros devices

Jornalismo participativo na berlinda

Apesar de muita gente achar suuuuuper legal essa história de jornalismo participativo, alguns também não têm a mínima vergonha de dizer na cara desse povo que isso não é jornalismo nem nos EUA nem na China. Foi assim logo no primeiro painel da conferência, ainda na quinta, quando Mike Clemente da ABC, disse sem nenhum constrangimento, que não acha que isso possa ser chamado de jornalismo.

- É uma contribuição de leitor, como desde sempre recebemos em nossas redações. Como aconteceu no caso Nixxon. O que se discute hoje é como ampliar o crédito dado a essas informações que nos são repassadas desde sempre. Tem que estar junto do restante? Sim, mas dizer qual é o melhor serviço de baby-sitter da cidade não é fazer jornalismo - afirmou, categórico.
Craig Newmark, o criador da famosa Craiglist, também acabou concordando:
- O papel do jornalismo e do jornalista é outro. O que vemos hoje é o movimento do leitor se aproximar da produção de conteúdo. Isso é bom, mas não substitui o papel do jornalista.

Já Jeff Jarvis, veterano e autor do blog Buzz Machine.com, levantou várias vezes durante o seminário a bola do "todo conteúdo é válido, não precisamos ficar tão preocupados com checagem e treinamento, mas essas pessoas devem ser remuneradas, sim".

Será mesmo?

Não tenho uma opinião formada a respeito ainda. Outro dia vivemos exatamente esse dilema no site onde trabalho: pagar ou não por uma foto de leitor que foi publicada na versão impressa ?

Os argumentos dos que defendiam o pagamento e dos que eram contra:

"ah, mas é como uma foto de um frila!"

"Mas quando a foto foi feita a intenção do sujeito não era essa".

"A história foi contada independentemente das imagens existirem".

"Mas a imagem enriqueceu absurdamente o conteúdo".

"Vc vendeu mais jornal e teve mais audiência por conta das imagens".

Enfim, o recado é simples: a relação dos leitores com os jornalistas hoje é outra e nossos departamentos jurídicos ainda terão que se debruçar muito sobre o tema.

17.10.06

Jornalismo participativo nos EUA

A ONA preparou com o J-Lab Institute um workshop de um dia inteiro sobre as iniciativas de citizen journalism e generated content , que nós no Brasil chamamos de jornalismo participativo. Foram feitas várias apresentações de sites criados para suprir a ausência de uma cobertura local pela grande mídia.

Em New Hampshire, por exemplo, zona montanhosa e rural no nordeste dos EUA com cerca de 40 mil habitantes e onde o acesso a banda larga é coisa raríssima , Maureen Mann, uma bibliotecária de cerca de 40 anos, criou com a comunidade local o The Forum, um site de notícias locais produzidas por 15 moradores que receberam algum treinamento para isso. O The Fórum, segundo a própria Maureen, "só existe, porque nada mais existe”.

O foco editorial são as notícias locais, mas não apenas problemas de buracos em ruas ou incêndios. O objetivo é provocar a reflexão da comunidade em relação a temas como as eleições para o Congresso. Maureen diz que nas prévias de março deste ano o percentual de eleitores que foram às urnas subiu para 33% na região, quando há muito não saía de pouco mais de 25% (nos EUA, o voto não é obrigatório).

O site também publica poemas e artigos de moradores, fotos de crianças e no último verão, ganhou uma versão impressa que é distribuída a duas mil pessoas pelo correio. Dessa forma, o jornal ganha alguma chance de sobrevivência segundo a própria editora, já que os assinantes só enxergam valor no papel. A audiência é pífia e a versão impressa deixou o produto deficitário.

A história não é muito diferente em outros casos apresentados no workshop.

Bakotopia.com - Site de notícias de jornal local da Califórnia (Bakersfield) criou comunidade e fatura com anunciantes no ranking do setor de serviços (restaurantes, cinema) e também com classificados integrados com o do jornal. Faz marketing dos anunciantes usando os leitores, que dão depoimentos sobre serviços e produtos também: vendem credibilidade. Têm listas de TOP 10 dos leitores para esses serviços

Acreditam em : Personalizar e envolver pessoas – Amigos fazem audiência crescer
Muita multimídia
Investe em cadastro para rentabilizar o negócio

Não é rentável por conta da edição papel


Bluffton – "Uma comunidade em conversa permanente com seus vizinhos". Tem 18 jornalistas profissionais trabalhando o conteúdo que recebm diariamente

YourHub.com – Rede de 44 comunidades e mais de 6 mil colaboradores (entre eles umasenhora de 76 anos). Vendem conteúdo para jornais locais e contam com equipe de 26 jornalistas profissionais. Ainda não é rentável. Publica papel.

Backfence.com – Já são 11 sites, com cadastro, em pouco mais de um ano de existência. Não trabalha com jornalistas profissionais. É contra treinamento. Penetração de 10% na população local de DC.

8.10.06

Blackberry banal

Aliás, todo mundo aqui em DC (é, fiquei íntima, uma m...) tem um blackberry. E não estou falando de jornalista nem de executivo, não. São donas-de-casa na farmácia, estudantes secundaristas e universitários saindo de suas escolas e até um vendedor de cachorro-quente. Absolutamente outra realidade.

O jovem e sua segunda vida

Na tal entrevista aberta com os jovens a única frase deles que me impressionou foi a de uma moça de 17 anos, classe média, bastante esclarecida e com nível de renda altíssimo, que declarou ler jornal todo dia de manhã (???) e que diz passar o dia conectada com seu blackberry (aquele telefone celular que tem teclado e opção de conexão wireless para web).

- Ah, o Google para mim é onde a Internet começa. É um grande filtro para o mundo.

O curioso disso é que o Orkut , ferramenta da empresa mais focada no público jovem – e de grande sucesso no Brasil -, nem é citado pelos caras. Para eles é só mesmo um buscador de notícias, imagens e arquivo. O grande barato de interação da garotada é o Facesbook.com, o MySpace.com (o orkut do Murdoch) e o SecondLife.com.

Este último então é o mais louco de todos: parecido com o game The Sims, nele vc pode criar uma realidade paralela à sua e interagir com outras pessoas, tão desocupadas e neuróticas como você, em tempo real. Os criadores e gerenciadores desse grande surto coletivo faturam com publicidade criada especialmente para esse mundo virtual e que atrai os grandes players como as indústrias de alimentos e montadoras.

Comentário da VP e editora-chefe da MSNBC, Jeniffer Sizemore, sentada ao meu lado:

- Meu Deus, eu mal consigo dar conta da minha vida real, que dirá se eu ainda tivesse uma outra virtual.

Faço das palavras dela, as minhas.

O jovem e sua produção de conteúdo

Não assisti à palestra inteira sobre o consumo de notícias pelos jovens. Na verdade, era uma entrevista com cinco adolescentes de idades girando entre 13 e 16 anos aberta, à platéia. O mais interessante foi uma pesquisa mostrada antes e que diz que o jovem se vê não só como consumidor de notícias, mas como produtor dela. Por isso, ele escreve tantos blogs, faz tantas fotos, já sabe trabalhar até com flash e coloca seus vídeos no You Tube.

Pode estar aí o pulo do gato para quem quer de fato rejuvenescer seus produtos e atrair essa audiência.

Automatizar para a redação pensar

Adrian Holovaty é jornalista e amplo conhecedor de bancos de dados na web. Desenvolveu projetos interessantes para o LawrenceJournal, como um guia de programação cultural que permite ampla interação dos leitores (com envio de críticas e geração de ratings de qualidade) e buscas por vários tipos de filtros (tags). Na conferência da ONA, Holovaty participou de painel em que defendeu enfaticamente a criação de mais e mais serviços para o leitor a partir de bancos de dados. Mas com uma absoluta exigência: que esses serviços sejam pensados de forma que sua atualização seja automática. Isso mesmo, sem bracinhos humanos envolvidos no processo.

- Os jornalistas precisam estar livres para apurar, editar, fazer vídeos e projetos especiais. Essa inteligência não pode ser usada para um trabalho mecânico. O investimento deve ser apenas para a criação do projeto e o que se gasta depois é apenas com suporte técnico – explicou Holovaty, hoje editor de inovação do WashingtonPost.com.
Como exemplo, ele lembra dois de seus cases de sucesso: Chicago Crime e o US Congresso Votes, ambos desenvolvidos de forma que sua atualização seja casada com a entrada de dados no registro de ocorrências da polícia de Chicago (caso do ChicagoCrime.org) e com a votação eletrônica dos projetos pelo Congresso americano (caso do US), o que faz com que sua atualização seja automática. Bingo!

A quantidade de fatores altera o produto

Um dos pontos discutidos durante a conferência da ONA foi a geração de audiência nos grandes portais de notícia, por meio do crescimento de tráfego em pequenos sites de notícias. É o que eles chamam de long tail (rabo comprido). O editor-executivo do Extra, Octavio Guedes, que também participou da conferência (nós éramos os únicos representantes da América do Sul) assistiu a uma dessas discussões e resumiu:

- Simples assim: um site de notícias pode ter - sem qualquer peso na consciência - várias pequenas comunidades em torno de temas diversos que gerem pequenas curvas de audiência e que, acumuladas, têm peso relevante para a audiência total do site. Isso significa que não há qualquer problema um site de jornal trabalhar com blogs que tenham audiência em torno de 2 mil, 3 mil visitantes únicos /dia. É a soma desses produtos que fará alguma diferença no final das contas.