7.9.05

Midiacídio ou midiamorfose? Eis a questão

Tive a oportunidade de participar essa semana de uma reunião onde estava o jornalista e professor da Universidade do Texas Rosental Alves, um defensor de primeira hora da internet e do jornalismo online. Foi ele quem colocou no ar há dez anos o primeiro jornal brasileiro na web. Era 1995 e trabalhávamos no JB. No mesmo ano, saiu do jornalismo diário, rumo à academia no Texas. De lá, acompanha de perto os movimentos do jornais em torno da web, promove seminários e discussões, defende a multimídia e a convergência.
Perguntei a ele sobre o futuro do jornalismo impresso. Nem um pouco constrangido, mesmo diante de dois editores-chefes de jornais brasileiros, ele responde que não vê um caminho promissor. Acha que o mercado brasileiro, a exemplo do americano e do europeu, vai ser invadido pelos gratuitos. Aposta no fortalecimento crescente da internet e aponta como caminho para os jornalões um jornalismo mais pensado e profundo. Lembra que lá fora os jornais desistiram de olhar a circulação e dão valor agora à audiência. Audiência essa que é a soma de todas as suas ações no mercado, seja com os tradicionais impressos, seja com compactos ou gratuitos, seja na web.
Alerta ainda para o fato de mais da metade dos jornais americanos já terem um parceria com uma rede local de TV e diz que essas parcerias são de verdade: os jornalistas das redações fazem reuniões de pautas conjuntas e trocam informações, atentos à melhor forma de manter o leitor/telespectador/internauta dentro de sua audiência.
Ressalta que hoje esse leitor/telespectador/internauta sabe que controla onde, como e quando encontrar a informação que ELE quer. E reafirma que todos nós somos multimídias. Não há motivo para ignorar essa realidade e não tirar proveito dela.
Lutar contra tudo isso a essa altura do campeonato é, segundo ele, midiacídio. É lutar contra o inexorável.
Estarão em melhor situação os que souberem aceitar o novo cenário e fazer a midiamorfose.
Ela trará perdas, sem dúvida, mas também trará ganhos.