18.8.05

Explodir a redação e acabar com a mesmice

Mergulhada na web em busca de dados para uma apresentação aqui da empresa, li um texto muito interessante, fruto de uma conferência sobre o futuro do jornalismo.
A discussão é sobre como desconstruir as redações para produzir um jornalismo mais inteligente e com jornalistas mais felizes em relação ao seu trabalho.
Reconheci muitas coisas em que acredito, piamente.

1. Escrever menos histórias - Apostar em bons assuntos e aprofundá-los em vez de atirar para todos os lados e não fazer nada bem. A escassez de recursos e a concorrência faz muitas vezes que a chefia não perceba a necessidade de investir num assunto. E essa missão fica a cargo apenas dos repórteres especiais. Mas boas histórias podem ser contadas simplesmente por bons jornalistas, bem pautados e respaldados por suas chefias.

2. Apostar em nichos - Os leitores estão cada vez mais segmentados. Cada vez mais à procura de notícias "personalizadas". Encontrar os nichos interessantes aos leitores trará uma audiência fiel aos jornais. Impressos ou onlines

3. Focar nos jovens - Essa tribo não lê jornais e já começa a criar suas próprias formas de se informar. É preciso transformar os veículos em foco de interesse deles, com mudanças na forma e no conteúdo

4. Inverter a mão - O jornal impresso deve publicar mais as notícias que estão no online e que são commodities. Assim, terá mais tempo para ir atrás de boas histórias

5. Liderar do meio, não do topo - Estar com as bases, ouvir sugestões, estar disponível é o que falta nas chefias das redações. Os jornalistas precisam ser ouvidos. São vaidosos e carentes. Deixar essa gente desassistida só trará desestímulo. E fará com que as boas sugestões de pautas e melhorias nos processos fiquem perdidas na rádio-corredor.

6. Seja intencional, não acidental - Acredite que é possível mudar. Virar de cabeça para baixo uma redação, mudar formatos e processos pode doer, trazer alguma resistência ou sofrimento, mas se houver uma intenção clara, definitivamente, trará muitos ganhos também

Cervejarias atacam com podcasting

Kaiser e Heineken já perceberam que precisam estar com seus consumidores onde quer que eles estejam. Nem que seja no ouvido deles. Por isso, lançaram sites em que é possível se cadastrar e baixar músicas para players de MP3...

Se não dá para vencer, una-se a eles

O número de aquisições e fusões na indústria de mídia e informação cresceu 15% no primeiro semetre do ano, com 266 operações que somam perto de US$ 27 bilhões.

Alguns exemplos interessantes:

- O Dow Jones comprou o MarketWatch.com da CBS por US$ 528 milhões (janeiro) e resultado online cresceu 33,5%, com impacto positivo de 3,7% no resultado total no 2º tri de 2005. O Market é um site de finanças com parte do conteúdo fechado. Tem 100% de seu inventário de publicidade VENDIDO. Os anunciantes saem no tapa para colocar um banner por lá.

- NYT.com comprou o About.com (site de serviços) por US$ 400 milhões. Nesse site vc encontra desde dietas até cursos de culinária online. Alguns dos serviços são pagos.

- Gannett comprou PointRoll, agência de publicidade especializada em mídia online, por US$ 100 milhões

- Gannett, Tribune e Knight-Ridder compraram 75% do agregador Topix.net

- A News Corp, do Rupert Murdoch, vai destinar US$ 1 bi para novas investidas no mundo pontocom

- O grupo Howard News (tem alguns jornais em cidades de porte médio nos EUA) comprou o Shopzilla (comparador de preços) por US$ 500 milhões

"Até o fim de 2006, nós projetamos um reposicionamento do capital das grandes empresas de mídia com a contrução de um portfolio online"
Tolman Geffs, diretor geral da Jordan, Edmiston, consultoria especializada em fusões e aquisições em mídia

9.8.05

Surfando à procura de notícias

Pesquisa da Pew, aquela consultoria que investiga hábitos de internautas americanos, concluiu que, dos 81 milhões de adultos que têm acesso à internet nos EUA, 30% usam a web para LER NOTÍCIAS. Outro número interessante: 52% usam alguma ferramenta de busca para encontrar informações na grande rede. Vinte e um porcento usam a web para participar de fóruns de discussão ou para encontrar informações sobre entretenimento. E 22% para ver as condições climáticas!!! Mais sobre a pesquisa aqui

8.8.05

Vamos acabar com o jornalismo!

A proposta é de um coleguinha colunista do jornal português "Expresso". Está AQUI e foi publicado na Folha Online de hoje. Concordo em gênero, número e grau: contar BEM boas histórias para salvar o bom jornalismo. É a saída!

Não dê as costas para o seu leitor

Quantas vezes em anos de profissão você levou a sério uma denúncia feita por um leitor ao telefone? Não, não precisa ser uma denúncia capaz de derrubar o governo, mas uma sugestão de pauta.
OK, concordo que muitos ligam para falar do buraco na rua e não percebem o mundo além de seus problemas. Mas o fato é que essas pessoas, das quais os jornalistas se afastaram absurdamente nos últimos anos, cansaram. Viraram as costas e foram escrever seus blogs ou contribuir para veículos onde são jornalistas-cidadãos.
O Cit-J (abreviatura já dada pelos americanos para o movimento do Citizen Journalism) está na crista da onda nos EUA. Mas sua explosão foi na Ásia, mais precisamente na Coréia do Sul, com o Oh!MyNews (aqui a versão em inglês), um site de notícias que existe há cinco anos e onde apenas 20% do conteúdo é produzido pelos 41 jornalistas da redação. A maioria é escrito por cerca de 10 mil colaboradores (inclusive alguns na América Latina e na Europa), que recebem módicas quantias por isso. Foi esse jornalismo participativo que impediu uma fraude na eleição no país e vem deixando de cabelo em pé os políticos locais.
Aos poucos na Europa e nos EUA pequenas publicações e sites vêm testando a fórmula, tentando trazer os leitores de volta para seus braços. O guru dos blogueiros Dan Gilmor é um dos fervorosos defensores do modelo.
Mas já há também dezenas de críticos a postos. Questionam a capacidade desses cidadãos de lidar com a apuração e começam a apontar erros de informação que se multiplicam pela internet ( a vilã, sempre ela!!!).
Não tenho uma opinião absolutamente clara a respeito do assunto.
Acredito que nós, jornalistas, temos que parar de uma vez por todas de escrever para nós mesmos e para nos coleguinhas. Precisamos passar a enxergar nossos leitores e suas necessidades. Não, não defendo que apenas seja entregue a eles o que eles querem (esportes, sexo e fofocas, os recordes de audiência sempre).
Temos que parar e encontrar uma forma de entregar o assunto que eles rejeitam, mas não podem deixar de ler e refletir a respeito. Se é sobre a crise política atual - que começa a entrar naquele período em que o denuncismo é tamanho que passa a ser chato - precisamos descobrir uma forma de trazê-lo de volta para o assunto, gerando opinião e crítica.
Não concordo com os editores do site coreano que dizem que todo cidadão é um jornalista. E não é por corporativismo ou medo de a nossa profissão desaparecer. Acho que todo cidadão é, sim, um leitor em potencial. E pode nos ajudar a desempenhar melhor nosso papel de filtro.
A apuração, a checagem e mesmo a produção da notícia requer memória, senso crítico, isenção e técnica. Por isso, não consigo enxergar ainda onde é o meio desse caminho.
De qualquer forma, tenho lido com mais atenção as sugestões de leitores que me chegam por e-mail e tido mais paciência ao falar com eles por telefone...

Preparando jornalistas para o online

Enquanto em Manhattan o "politicamente correto" não vai além de uma divisão de baias (veja o post), em Londres a Press Association, principal provedor de conteúdo e multimídia do mercado inglês, decidiu treinar seu staff para produzir mais notícias online. O editor responsável pelo treinamento, Tony Johnston, justifica a decisão lembrando que a demanda por esse tipo de conteúdo vem crescendo e que, para atendê-la, os jornalistas do grupo devem estar mais confortáveis e treinados o suficiente para enviar breaking news, gravar vídeos e áudios e preparar um conteúdo para web. Diz ainda que estar apto para essas funções será um divisor de águas para a empregabilidade no futuro próximo.
Sinal de que alguém reconhece que as aptidões para esse meu, seu, nosso trabalho vão muito além de saber lidar com códigos em html ou manejar uma câmera ou gravador digital...

Ainda sobre a web na China

Tive a oportunidade de ir à China a trabalho há cerca de um ano. Muito me assustaram sobre o controle do acesso à web por lá. Por conta disso, carreguei um trambolho de um laptop com acesso remoto da AOL para garantir que meu trabalho chegasse aqui a tempo.
Mas qual não foi minha surpresa ao ver que nos hotéis em que fiquei hospedada nos 10 dias de viagem o acesso era liberadíssimo. A única restrição que pude perceber foi num seminário em que usei a infra-estrutura local (era num prédio da prefeitura de Shanghai). Mesmo assim ao reclamar com um dos organizadores do evento foi chamado um help-desk que rapidamente driblou a tal censura. Para mim ficou claro que o tal controle é muito mais marketing para garantir alguma forma de controle...

7.8.05

Baidu desbanca Google na estréia em NY

O Baidu.com, maior site de buscas da China, estreou sua participação no mercado de ações de Nova York com uma alta de 354%. Foi a maior variação em IPO desde 2000 e o melhor rendimento em um primeiro dia de uma empresa estrangeira na história do Nasdaq.
O nome é poético: vem de um poema chinês que conta a história de um homem que busca o amor incessantemente. Com o lançamento dos papéis, a empresa colocou à venda 12,5% de sua propriedade, o que equivale a 4,04 milhões de ações. Estes títulos foram vendidos a investidores preferenciais a US$ 27 cada. O Google tem 10% do capital do grupo, que é misto ( também conta com participação do estado). Aliás, como qualquer site naquele país, o acesso é monitorado pelo governo. O Google entrou no mercado asiático em junho. O Yahoo! já tinha comprado um site de buscas local. A China promete ser o mais novo palco de briga dos dois titãs.

5.8.05

NYT: Dividindo a baia com o inimigo

O anúncio foi feito nesta terça-feira: a direção do NYT decidiu juntar as redações do impresso e do online. O objetivo é, segundo o memorando assinado pelo big boss Bill Keller, ensinar os jornalistas a serem mais multimídias, pensando na distribuição virtual do conteúdo desde o início da apuração e diminuir as diferenças entre os jornalistas do impresso e do online.

Legal! Defendo e acredito, de verdade, que o caminho para as duas mídias é a aproximação e racionalização do trabalho nas redações. E quando um dinossauro como o Times opta por esse caminho deflagra uma moda que poderá contaminar alguns outros pelo mundo afora.

Mas alguns grandes detalhes me espantam e, confesso, me desanimam:

1. OK, não vou discutir que o jornalismo feito pelo NYT é muito bom ( bom, não vamos lembrar as matérias inventadas ou mal apuradas por dois ou três, né?). Todo o discurso do memorando de Mr. Bill é no sentido de que aos jornalistas do impresso só falta a técnica. Não há qualquer auto-crítica à qualidade do impresso ou referência às estrondosas quedas de circulação (segundo a Forbes a audiência do Times é hoje menor do que a do gratuito AM New York).

#Mas será que os jornalistas do online não têm NADA, NADICA a ensinar para os dinossauros, além de operar câmeras e fazer infográficos?? Será mesmo que o povo do online, a ralé do jornalismo do século XXI, não tem nada a acrescentar????

2. O sindicato dos jornalistas quer garantias de que não haverá demissões por conta da sinergia. Legal! Mas o sindicato não lembra que em maio o NYT colocou um PDV na redação e com isso reduziu o quadro em 29 vagas ( na empresa toda o corte foi de 190 postos de trabalho). No NYT.com trabalham cerca de 25 jornalistas.

3. O sindicato também quer garantir que o povo do impresso não irá perder benefícios e salários com a fusão. Mas em relação aos salários infinitamente inferiores dos jornalistas do online - aquela gente que só detém a técnica de mexer com computadores - ninguém tratou.

4. No memorando, Mr. Bill garante que a transição será tranqüila e deixa claro que os editores do impresso continuarão sendo o povo que manda, decide e edita. Toda a transição é para que ELES entendam o online como área de sua responsabilidade também.

#Mais uma vez me pergunto: por quê? Será que realmente em todos os casos o editor do impresso é a melhor opção e conseguirá ter essa flexibilidade? Será que em nenhuma editoria é hora de mexer, sacudir, colocar sangue novo?

Não consigo acreditar num processo em que, me parece, simplesmente partiu-se de uma única premissa: a primazia de qualidade do negócio papel e daqueles que o fazem.

Com a decisão, o NYT pode agora se orgulhar e dizer que ousou, foi pioneiro e moderno.

Mesmo de muito longe e atrás de um monitor, vou arriscar prever o que acontecerá na prática, fruto de uma transição mal pensada e executada:

* algumas adesões - muitas políticas e poucas verdadeiras - ao projeto online, que ao fim vão gerar produtos casados de qualidade e grande repercussão, mantendo a imagem pioneira do Times

* perda de liberdade e criatividade no dia-a-dia, com injeções de anestesia na equipe do online

* uma redação rachada e competindo mais que antes, só que agora ombro a ombro e dividindo a mesma baia