13.11.06

A redação do futuro, pelo grupo Gannett

O grupo Gannett, um dos maiores do setor de comunicações dos EUA com dezenas de jornais e revistas, anunciou há pouco mais de uma semana que vai promover uma ampla reformulação de suas 89 redações para que haja uma distribuição 24/7 de seu conteúdo em diversos formatos emaior proximidade com o conteúdo local.

O nome do projeto é Centro de Informação e passa por uma integração maior entre papel e online e uma atenção redobrada em relação aos desejos de notícias dos leitores. Num memorando para todos os funcionários do grupo (veja aqui), o CEO Craig Dubow, ressaltou a importância desse projeto para fazer jornais "mais fortes" e atender às demandas dos anunciantes. "Vamos entregar conteúdo para celular, vídeo e onde mais seja possível no futuro, precisamos nos preparar já para isso", reiterou. O documento no entanto não explica como seria esse projeto nem como funcionaria na prática esse Centro de Informação. Os editores da empresa foram comunicados da mudança num seminário em outubro. Já foram feitos teste em três redações, segundo ele, com suceso.

O discurso é mais do mesmo de sempre. A circulação cai, a receita também e é preciso entregar mais valor no mundo online para envolver agências de publicidade e anunciantes nesse negócio.

O que eu gostaria de saber é como fazer para atingir esse ousado objetivo. É essa a pergunta que ninguém conseguiu responder até agora.

6.11.06

E por falar em integração de redações

A palestra da ONA sobre o tema foi uma das mais concorridas. Eu, mal acostumada com farta quantidade de lugares para escolher, bobei e deixei para chegar exatamente na hora da palestra. Resultado: fiquei sentada no chão!!! Não fosse o simpático e hospitaleiro Neil Chase, editor do Continuous News Desk do NYT, eu teria passado aqueles 70 minutos ali, imprensada entre a porta e um editor da BBC. Resgatada pelo amigo, pude assistir as discussões mais de perto e verificar que nossos dramas e dúvidas sobre como aumentar a sinergia entre as redações off e online são vivenciados pelos quatro cantos do mundo.

Alguns apostam em juntar todo mundo, ombro a ombro, deixar o pau comer entre eles e que vençam os mais espertos. É caso do The Journal, um jornal pequeno de Delaware. Tem uma equipe de 120 pessoas e diz que 60% fazem de tudo: jornal, mobile e web. Mas quando eu pergunto como é a rotina do repórter no dia-a-dia ele deixa escapar que nem todo mundo faz tudo. Lógico! Ninguém é bom em tudo!

No USA Today, juntaram os suplementos na primeira fase. Mesmo sem hard news, a carga horária da turma cresceu e já há reclamações e desânimos em relação a isso.

No portal ESPN, é tudo separado e, segundo o editor-executivo, o sucesso é justamente esse.

No Washington Post, também: vidas separadas, um mesão na redação num tentaiva de melhorar a sinergia. Mas as condições de trabalho e de clima muito diferentes não contribuem para tal.

No NYT, a integração serviu para colocar um balde de água fria na galera do online, que passou a ser um satélite do impresso, o astro mestre. O clima é tão esquisito que a gente nem agüentou ficar muito tempo lá na redação do Digital.

BBC, CNN, MSNBC... poderia enumerar vários exemplos, nenhum que eu tenha achado bom suficiente para copiar ou importar.

Enfim, minha opinião não mudou.

Acho que o melhor caminho ainda é conseguir diagnosticar a cultura que impera nas redações, enxergar deficiências e qualidades e junto com as equipes construir esse caminho, cujo objetivo final deve ser produzir produtos melhores, com mais qualidade e inteligência na produção. Com os melhores, mais preparados e comprometidos profissionais que pudermos ter.

Para o papel, o online, o celular, o ipod, o chip que estará instalado na cabeça de nossa audiência num futuro não mais tão longe...

2.11.06

Playground do Washington Post

Aproveitamos a conferência da ONA em Washington para conhecer as redações do Post off e online. Ver como eles trabalham e como lidam com o fato de não terem operações integradas. Uma das melhores coisas foi descobrir que lá eles têm um PLAYGROUND!!! Velha reivindicação de boa parte da redação onde trabalho...




MoJos e Kikas no jornalismo online

Uma das palestras da conferência da ONA era sobre essa mais nova categoria de jornalistas: MoJo ou Mobile Journalist. Uma galera que não tem a obrigação de dar as caras na redação do impresso. Aliás, nem tem mesa e cadeira para eles lá. Mas que ficam conectados 24h, com laptop e câmera de vídeo, mandando notícias em tempo real e funcionando como um elo de ligação entre o jornal e comunidade local.

Alguns ficam livres para fazer as matérias que quiserem. Outros recebem pautas específicas a apurar.

Diferentemente do que já temos aqui no Brasil - repórteres de produtos impressos que passam notícias que estão em apuração por meio de seus celulares - lá nos EUA e na Europa a briga hoje é para conseguir montar um plantão com notícias que não tenham como fonte apenas os serviços das agências de notícias. Ninguém lá passa flash como a gente faz aqui.

Por isso, criaram os tais MoJos.

Mas será que isso funciona?
A mídia tradicional de lá encara como um experimento. Redações menores e com menos recursos humanos vendem como uma grande e eficiente inovação.

Eu não acredito que seja a melhor forma ou rotina para fazer jornalismo em tempo real, mas concordo que para a cobertura de cidade, bem local, poderia ser uma boa alternativa sim. O problema é que para essa função só se pensa em recém-formados. Nada contra os jovens. Mas pq não colocar um experiente jornalista, cheio de fontes, também para trabalhar remotamente?

Pq ter uma mesa e uma cadeira numa redação ainda é diretamente proporcional ao prestígio que o coleguinha tem no mercado. Ainda é assim. Em pouco tempo, pode não ser mais.

Mas também não acredito na possibilidade de todos sermos abduzidos e transformados em Kikas, a célebre personagem do filme homônimo de Pedro Almodóvar. Para fazer multimídia, tempo real, há que se pensar, saber o que está fazendo. Dá para fazer um vídeo e um texto numa única saída? Até dá. Mas há que se ter prioridade. E cérebro para tomar as decisões acertadas.