8.6.08

De volta para o jornal... será?

Foi a temática de hoje do caderno Mais! da Folha de S. Paulo. Talvez inspirado por dados de pesquisa divulgada essa semana na WAN, apontando para o forte crescimento do meio jornal no Brasil e China. Segundo os dados, no Brasil, a taxa de crescimento foi de 11% no ano passado. O fato é que o caderno traz uma ampla discussão sobre o tema, citando a importância do meio jornal e mostrando como o jornalismo online deixa muito a desejar seja pela falta de consistência, seja por não conseguir ocupar como negócio o lugar do bom e velho invento de Gutemberg.

Algumas provocações de minha parte:


- O jornal não vai acabar nunca, mas sua relevância estará cada vez mais diretamente ligada à sua importância na vida do leitor, cada vez com menos tempo para se deicar à leitura desse meio


- Será que a internet tem mesmo que substituir em volume o modelo de negócio da imprensa escrita? Ou será que a tese da long tail tb servirá para esse novo mundo digital, onde a métrica é perversa e detalha exatamente o que se está entregando ao leitor??


Ah, a imagem tb é uma provocação, mas só para quem viu a capa do caderno...

Tortura de jornalistas

Seis anos depois da traumática morte do colega Tim Lopes, nova tragédia atingiu a categoria carioca. Não vou entrar na discussão se a reportagem deveria ser feita, se os colegas estavam ali em busca de uma premiação, se a direção do periódico foi irresponsável. Muito já se falou e se discutiu sobre isso.
A questão que me assusta é como cada vez mais estamos mais reféns e reféns.
E por tudo isso não podemos nos calar, nem nos assustar.

Integração de redações, the last one

No último dia do tour, já em Londres, visitamos a gigantesca e famosa redação de seis mil metros quadrados do Daily Telegraph, onde a integração chegou em janeiro de 2007 com a transferência dos 500 jornalistas do The Daily Telegraph, do The Sunday Telegraph, do The Weekly Telegraph e suas respectivas e mínimas operações on-line para o novo prédio da empresa
.

Além da grandiosidade da operação, o processo de integração do Daily surpreende pela visão estratégica, organização e treinamento realizado. Desenhada como uma flor, a nova redação é responsável pela publicação dos títulos impressos e pelo portal de notícias. A produção multimídia conta com uma equipe de 12 profissionais, assim como os projetos on-line têm uma equipe dedicada de 25 jornalistas. Profissionais das áreas de marketing, circulação e métricas também têm postos de trabalho ao lado dos jornalistas. Outro destaque é a forte remissão entre as edições: cada página do jornal tem pelo menos uma chamada (o nosso dedo-duro) para conteúdo complementar na web. A unificação das operações resultou em crescimento de 7,35 na circulação diária e também de aumento na participação de mercado do grupo, segundo os editores-executivos que nos receberam na visita.

Por fim, estivemos no Financial Times, onde os ventos da integração chegaram há dez anos, com a mudança de contrato de trabalho que fez com que os funcionários do impresso passassem a responder também pela produção do on-line. Ainda que a produção seja unificada a redação do FT tem uma equipe de edição para o site que, assim como o impresso, tem quatro edições regionais (Inglaterra, Europa, EUA e Ásia).

Para ter uma maior agilidade na edição, foi implementada uma mesma plataforma de publicação para todos os produtos. Outra decisão que chegou com a integração é a de dar os “furos” primeiro no site de notícias e assim já garantir uma repercussão nas edições impressas. Apesar de ter uma equipe de 20 profissionais apenas para a produção da web TV, a produção multimídia do FT é pequena e a liderança da redação reconhece a necessidade de pensar e fazer mais multimídia.

Integração de redações II

A terceira visita do tour foi à redação do Nordjske, grupo que publica jornais regionais no norte da Dinamarca, com circulação média de 70 mil exemplares e um portal de notícias locais com 130 mil visitantes únicos por mês
. Além disso, tem uma TV a cabo e uma rádio, também focadas no conteúdo hiper super local: no dia do nosso tour por lá a grande notícia da região era um choque de trens sem nenhuma gravidade.

A grande inovação da integração no Nordjske foi a criação da Super Desk em 2006, com o rodízio diário do comando das redações das quatro mídias do grupo. Sim, o editor-executivo do jornal, da TV, da rádio e da internet não é o mesmo todo o dia. Eles se revezam nesse comando, dividem e assumem a responsabilidade pelas pautas de todas as mídias. As reportagens são feitas pelas equipes de cada mídia, que abastecem as demais com as mesmas informações. E todas as notícias vão obrigatoriamente para a internet. Vale lembrar aqui que não há concorrência local, o que possibilita essa questionável padronização do conteúdo.

Já na Alemanha nossa visita foi ao quartel-general do Axel Springer, que unificou numa só redação os 70 editores e editores-executivos de quatro jornais: Die Welt, Welt am Sonntag, Welt Kompakt e Berliner Morgen Post. Com os comandos lado a lado, são tomadas diariamente as decisões de edição, assim como são feitas as avaliações em relação às páginas fechadas. Neste mesmo grupo também estão os editores responsáveis pela edição do portal de notícias Welt Online. As equipes de reportagem, divididas por assunto e não por jornal, ficam em outros andares da empresa e se relacionam com os editores por intermédio de coordenadores e chefes de reportagem. Não conseguimos conversar com os repórteres para saber se isso funciona, mas nos pareceu impessoal e “alemã” demais essa organização.

A navegação dos leitores no portal tem contribuído para algumas mudanças no impresso. Assuntos mais leves ganharam outra ênfase, as fotos passaram a ter mais destaque nas edições diárias e algumas colunas antes escondidas, como as de TV e cultura, foram redesenhadas com mais espaço.
Também contribuiu para essa reestruturação os resultados de pesquisa de consumo de notícias com um grupo de 200 leitores que usam diariamente um readerscan, espécie de e-paper, que mostra o que de fato eles têm lido na edição impressa.

Tour integração de redações I

Como integrar redações off e on-line? Qual é a melhor arquitetura para acomodar essas equipes? Como treinar esses profissionais? Como organizar a produção? Perguntas como essas povoam o dia-a-dia das lideranças nas maiores redações de jornais do mundo. Para ajudar na busca de soluções e aprofundar essa discussão, a Ifra, associação de jornais que estuda novas tecnologias e processos de produção, reuniu um grupo de 13 editores de várias regiões do mundo para uma visita guiada ( e no formato fast-food ) a redações européias que já testam formatos de integração entre suas equipes.

Em uma semana visitamos cinco redações integradas e o grande aprendizado foi ver que não há resposta nem modelo pronto a ser importado. Quem está praticando a integração sabe que há muito ainda o que fazer. E todos concordam que vivemos hoje uma fase de transição do modelo de negócio que ainda pode significar outras mudanças na forma de produção já já.

Desembarcamos na primeira redação em Copenhagen, Dinamarca, no dia 14 de janeiro para visitar os dois jornais do grupo JP/ Politiken Hus. O Ekstra Bladet é o jornal popular da organização e a integração acaba de chegar com a transferência dos editores do online para a redação do impresso. Sentados lado a lado, os responsáveis pelos dois produtos negociam que matérias irão para o online e quais ficarão só no papel, além de coordenarem conjuntamente a produção multimídia.

O tablóide tem uma circulação de 170 mil exemplares e o site é o mais lido do país com uma audiência de 1,3 milhão de visitantes únicos. Só como referência: o Globo Online teve 3,8 milhões de visitantes únicos em março. A produção do site, no entanto, continua independente. A grande aposta do jornal é o Nationen! sua rede social com jornalismo participativo, lançada em junho de 2007 e que já conta com 40 mil usuários cadastrados. Parte do conteúdo enviado pelos usuários é selecionado e publicado em duas páginas diárias do impresso.

Na redação do Politiken, a integração chegou em 2007 com novo projeto gráfico e reestruturação na produção para fazer frente ao avanço dos gratuitos, já que a circulação do quality paper do grupo havia caído de 150 mil para 130 mil no período de 1995 a 2006 (a população na Dinamarca é de 5,4 milhões).

A equipe de 80 jornalistas foi dividida em duas. Uma delas passou a ser chamada de Overview News e trabalha com 40 profissionais produzindo notícias factuais para o tempo real do site e para o jornal impresso. Os outros 40 jornalistas são responsáveis pelas reportagens especiais e investigativas (Insight News), que também vão antes para a internet como forma de promover a edição impressa. Segundo o editor-chefe Jesper Friis
, com a mudança, a equipe passou a planejar mais a produção e deixou de ser refém do fluxo de notícias, conseguindo mais furos de reportagem e impulsionando a venda diária de jornais.

De quem é o furo??

Tive essa discussão outro dia desses com um amigo, big boss de um jornal.
Ele argumentava que a grande perda nos processos de integração de redações é a questão do furo.
- Como um repórter vai brigar pela grande notícia, se ele trabalha para uma plataforma integrada de veículos que distribuiu o furo produzido por ele indiscriminadamente? O jornalista gosta de brigar pela camisa da empresa onde ele trabalha!!
Discordei do amigo.
Faz tempo que não estou na linha de frente da apuração jornalística, mas, do que ainda me lembro, o repórter gosta e quer ver mesmo é seu nome relacionado àquele conteúdo que vai repercutir no dia seguinte. A grande questão é a autoria. Melhor, claro, se ela estiver aliada a uma marca de qualidade...

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Eu voltei...

Fiquei um bocado de tempo longe do blog, tentei andar por outras praias, mas acho que é aqui que devo continuar escrevendo... Então, lá vamos nós, de novo!!!