18.10.06

Vídeos no Washington Post


No Washingnton Post, onde não há integração de redações, a produção de vídeos fica por conta do online. Cerca de 40 pessoas do impresso já foram treinadas - aprenderam na prática como ligar a máquina, enquadrar e desligar. Ganharam umas maquininhas fajutas (que custam US$ 300) e que produzem um áudio tétrico. Mandam em torno de dois vídeos por semana para publicação, com resultado bem questionável. Contam com um pequeno estúdio na redação do impresso, mas este é pouquíssimo usado.

É um grupo de 10 outras pessoas do online que cuidam da produção especial do site (seja nas coberturas mais amplas como Katrina, sejam nos vídeos integrados em produtos multimídia). Foram batizados de videografistas e produzem cerca de cinco vídeos/documentários especiais por mês. Ainda não conseguiram montar uma grade de produção semanal, mas estão tentando.

Vídeos, vídeos e mais vídeos

A segunda grande estrela da conferência - a primeira foi a integração de redações - foi a produção de vídeos para web. Todo mundo quer produzir vídeos, todo mundo sabe que não pode ser imitando a TV, que há que se descobrir uma outra linguagem e todo mundo está experimentando tudo. Mas ninguém descobriu o melhor caminho.

E por que vídeo?

1. Primeiro pq a banda larga já está disseminada suficientemente para estimular demanda por esse produto

2. Segundo pq as agencias de publicidade podem ganhar mais dinheiro nesse tipo de produção do que com qualquer outro tipo de formato online

3. Terceiro pq a TV digital vem aí e é um tipo de produto que permite ainda entrega em outros devices

Jornalismo participativo na berlinda

Apesar de muita gente achar suuuuuper legal essa história de jornalismo participativo, alguns também não têm a mínima vergonha de dizer na cara desse povo que isso não é jornalismo nem nos EUA nem na China. Foi assim logo no primeiro painel da conferência, ainda na quinta, quando Mike Clemente da ABC, disse sem nenhum constrangimento, que não acha que isso possa ser chamado de jornalismo.

- É uma contribuição de leitor, como desde sempre recebemos em nossas redações. Como aconteceu no caso Nixxon. O que se discute hoje é como ampliar o crédito dado a essas informações que nos são repassadas desde sempre. Tem que estar junto do restante? Sim, mas dizer qual é o melhor serviço de baby-sitter da cidade não é fazer jornalismo - afirmou, categórico.
Craig Newmark, o criador da famosa Craiglist, também acabou concordando:
- O papel do jornalismo e do jornalista é outro. O que vemos hoje é o movimento do leitor se aproximar da produção de conteúdo. Isso é bom, mas não substitui o papel do jornalista.

Já Jeff Jarvis, veterano e autor do blog Buzz Machine.com, levantou várias vezes durante o seminário a bola do "todo conteúdo é válido, não precisamos ficar tão preocupados com checagem e treinamento, mas essas pessoas devem ser remuneradas, sim".

Será mesmo?

Não tenho uma opinião formada a respeito ainda. Outro dia vivemos exatamente esse dilema no site onde trabalho: pagar ou não por uma foto de leitor que foi publicada na versão impressa ?

Os argumentos dos que defendiam o pagamento e dos que eram contra:

"ah, mas é como uma foto de um frila!"

"Mas quando a foto foi feita a intenção do sujeito não era essa".

"A história foi contada independentemente das imagens existirem".

"Mas a imagem enriqueceu absurdamente o conteúdo".

"Vc vendeu mais jornal e teve mais audiência por conta das imagens".

Enfim, o recado é simples: a relação dos leitores com os jornalistas hoje é outra e nossos departamentos jurídicos ainda terão que se debruçar muito sobre o tema.

17.10.06

Jornalismo participativo nos EUA

A ONA preparou com o J-Lab Institute um workshop de um dia inteiro sobre as iniciativas de citizen journalism e generated content , que nós no Brasil chamamos de jornalismo participativo. Foram feitas várias apresentações de sites criados para suprir a ausência de uma cobertura local pela grande mídia.

Em New Hampshire, por exemplo, zona montanhosa e rural no nordeste dos EUA com cerca de 40 mil habitantes e onde o acesso a banda larga é coisa raríssima , Maureen Mann, uma bibliotecária de cerca de 40 anos, criou com a comunidade local o The Forum, um site de notícias locais produzidas por 15 moradores que receberam algum treinamento para isso. O The Fórum, segundo a própria Maureen, "só existe, porque nada mais existe”.

O foco editorial são as notícias locais, mas não apenas problemas de buracos em ruas ou incêndios. O objetivo é provocar a reflexão da comunidade em relação a temas como as eleições para o Congresso. Maureen diz que nas prévias de março deste ano o percentual de eleitores que foram às urnas subiu para 33% na região, quando há muito não saía de pouco mais de 25% (nos EUA, o voto não é obrigatório).

O site também publica poemas e artigos de moradores, fotos de crianças e no último verão, ganhou uma versão impressa que é distribuída a duas mil pessoas pelo correio. Dessa forma, o jornal ganha alguma chance de sobrevivência segundo a própria editora, já que os assinantes só enxergam valor no papel. A audiência é pífia e a versão impressa deixou o produto deficitário.

A história não é muito diferente em outros casos apresentados no workshop.

Bakotopia.com - Site de notícias de jornal local da Califórnia (Bakersfield) criou comunidade e fatura com anunciantes no ranking do setor de serviços (restaurantes, cinema) e também com classificados integrados com o do jornal. Faz marketing dos anunciantes usando os leitores, que dão depoimentos sobre serviços e produtos também: vendem credibilidade. Têm listas de TOP 10 dos leitores para esses serviços

Acreditam em : Personalizar e envolver pessoas – Amigos fazem audiência crescer
Muita multimídia
Investe em cadastro para rentabilizar o negócio

Não é rentável por conta da edição papel


Bluffton – "Uma comunidade em conversa permanente com seus vizinhos". Tem 18 jornalistas profissionais trabalhando o conteúdo que recebm diariamente

YourHub.com – Rede de 44 comunidades e mais de 6 mil colaboradores (entre eles umasenhora de 76 anos). Vendem conteúdo para jornais locais e contam com equipe de 26 jornalistas profissionais. Ainda não é rentável. Publica papel.

Backfence.com – Já são 11 sites, com cadastro, em pouco mais de um ano de existência. Não trabalha com jornalistas profissionais. É contra treinamento. Penetração de 10% na população local de DC.

8.10.06

Blackberry banal

Aliás, todo mundo aqui em DC (é, fiquei íntima, uma m...) tem um blackberry. E não estou falando de jornalista nem de executivo, não. São donas-de-casa na farmácia, estudantes secundaristas e universitários saindo de suas escolas e até um vendedor de cachorro-quente. Absolutamente outra realidade.

O jovem e sua segunda vida

Na tal entrevista aberta com os jovens a única frase deles que me impressionou foi a de uma moça de 17 anos, classe média, bastante esclarecida e com nível de renda altíssimo, que declarou ler jornal todo dia de manhã (???) e que diz passar o dia conectada com seu blackberry (aquele telefone celular que tem teclado e opção de conexão wireless para web).

- Ah, o Google para mim é onde a Internet começa. É um grande filtro para o mundo.

O curioso disso é que o Orkut , ferramenta da empresa mais focada no público jovem – e de grande sucesso no Brasil -, nem é citado pelos caras. Para eles é só mesmo um buscador de notícias, imagens e arquivo. O grande barato de interação da garotada é o Facesbook.com, o MySpace.com (o orkut do Murdoch) e o SecondLife.com.

Este último então é o mais louco de todos: parecido com o game The Sims, nele vc pode criar uma realidade paralela à sua e interagir com outras pessoas, tão desocupadas e neuróticas como você, em tempo real. Os criadores e gerenciadores desse grande surto coletivo faturam com publicidade criada especialmente para esse mundo virtual e que atrai os grandes players como as indústrias de alimentos e montadoras.

Comentário da VP e editora-chefe da MSNBC, Jeniffer Sizemore, sentada ao meu lado:

- Meu Deus, eu mal consigo dar conta da minha vida real, que dirá se eu ainda tivesse uma outra virtual.

Faço das palavras dela, as minhas.

O jovem e sua produção de conteúdo

Não assisti à palestra inteira sobre o consumo de notícias pelos jovens. Na verdade, era uma entrevista com cinco adolescentes de idades girando entre 13 e 16 anos aberta, à platéia. O mais interessante foi uma pesquisa mostrada antes e que diz que o jovem se vê não só como consumidor de notícias, mas como produtor dela. Por isso, ele escreve tantos blogs, faz tantas fotos, já sabe trabalhar até com flash e coloca seus vídeos no You Tube.

Pode estar aí o pulo do gato para quem quer de fato rejuvenescer seus produtos e atrair essa audiência.

Automatizar para a redação pensar

Adrian Holovaty é jornalista e amplo conhecedor de bancos de dados na web. Desenvolveu projetos interessantes para o LawrenceJournal, como um guia de programação cultural que permite ampla interação dos leitores (com envio de críticas e geração de ratings de qualidade) e buscas por vários tipos de filtros (tags). Na conferência da ONA, Holovaty participou de painel em que defendeu enfaticamente a criação de mais e mais serviços para o leitor a partir de bancos de dados. Mas com uma absoluta exigência: que esses serviços sejam pensados de forma que sua atualização seja automática. Isso mesmo, sem bracinhos humanos envolvidos no processo.

- Os jornalistas precisam estar livres para apurar, editar, fazer vídeos e projetos especiais. Essa inteligência não pode ser usada para um trabalho mecânico. O investimento deve ser apenas para a criação do projeto e o que se gasta depois é apenas com suporte técnico – explicou Holovaty, hoje editor de inovação do WashingtonPost.com.
Como exemplo, ele lembra dois de seus cases de sucesso: Chicago Crime e o US Congresso Votes, ambos desenvolvidos de forma que sua atualização seja casada com a entrada de dados no registro de ocorrências da polícia de Chicago (caso do ChicagoCrime.org) e com a votação eletrônica dos projetos pelo Congresso americano (caso do US), o que faz com que sua atualização seja automática. Bingo!

A quantidade de fatores altera o produto

Um dos pontos discutidos durante a conferência da ONA foi a geração de audiência nos grandes portais de notícia, por meio do crescimento de tráfego em pequenos sites de notícias. É o que eles chamam de long tail (rabo comprido). O editor-executivo do Extra, Octavio Guedes, que também participou da conferência (nós éramos os únicos representantes da América do Sul) assistiu a uma dessas discussões e resumiu:

- Simples assim: um site de notícias pode ter - sem qualquer peso na consciência - várias pequenas comunidades em torno de temas diversos que gerem pequenas curvas de audiência e que, acumuladas, têm peso relevante para a audiência total do site. Isso significa que não há qualquer problema um site de jornal trabalhar com blogs que tenham audiência em torno de 2 mil, 3 mil visitantes únicos /dia. É a soma desses produtos que fará alguma diferença no final das contas.

7.10.06

Pessoas, sempre pessoas I

No último painel da conferência, a mediadora perguntou para os debatedores que grande investimento eles fariam no próximo ano se fossem o big boss de um grande jornal ou uma grande rede de TV. A grata surpresa surgiu na resposta de Mike Davidson (Newsvine):
- Eu contrataria os melhores jornalistas que trabalham com online do mercado. São eles que farão a diferença.

A primeira vez a gente nunca esquece

Não é bom começar um texto com lugar-comum, ensinam os manuais de jornalismo. Mas essa é a melhor frase para resumir minha participação de três dias na conferência anual da ONA -Online News Association em Washington DC ( 5 a 7 de outubro). Conheci muita gente legal e com idéias interessantíssimas que eu nunca soube que existisse. Tive o prazer de ver de perto alguns que sempre admirei à distância (Nora Paul, Jeff Jarvis, Adrian Holovaty, Mike Davidson). Conheci algumas soluções das quais estamos a anos-luz de distância. Constatei que o jornalismo online brasileiro já executa muita coisa que os americanos nem sabem que é possível fazer.

E o melhor: vi que os problemas de cultura, as dúvidas, angústias e as dificuldades são os mesmos, só mudam de código postal.

Nos posts que virão alguns flashes desse turbilhão de informações que recebi nesses dias. O jornalista Octavio Guedes, editor-executivo do Extra, também estava lá. Alguns dos posts abaixo também trarão informações de painéis assistidos por ele.